Arantxa UGARTETXEA ARRIETA
Tradução: Elça MARTINS CLEMENTE DE BRITO
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Versión original en español
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O "Cristo de Pedreña". Casa de Exercícios. |
E o fato é que esta percepção pessoal ficou em mim, naquele dia, como uma pergunta e eu diria que também como um desejo, o desejo de experimentar. À margem de tanta explicação teológica vivida há muitos anos, senti que estava diante de um fato histórico ocorrido a um personagem de minha própria terra guipuzcoana, cuja transcendência tinha sido quase imensurável no momento e continuava sendo apesar da ignorância que tinha sobre o assunto, como se aquilo não tivesse nada a ver com minha própria vida e, certamente, com o ambiente que me rodeia. Entretanto, o fato é que comecei a ver Inácio como esse homem da terra, autodidata espiritual, aferrado a uma busca, um afeto e uma prática. Não nos deixou nenhuma exaustiva obra teológica, não parece que é um Pai da Igreja no sentido tradicional; vejo, entretanto, que nos deixou um livreto de exercícios espirituais, ou seja, “uma prática”. Assim, como quem não quer, parece que nos diz com entusiasmo: esta é minha experiência, podem experimentá-la.
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Casa de exercícios. Pedreña (Santander). |
A este respeito trago aquí o que Alfonso Álvarez Bolado S.J. diz na revista “Sal Térrea (Apartado 77-39080 Santander), em sua separta de Julho/Agosto de 2005, no artigo que tem por título “Exercícios do mês em Pedreña. Uma tradição de sessenta anos”, p.657-658
“Começarei citando uma carta escrita de Veneza, de 16 de Novemro de 1536, por um leigo guipuzcoano, Iñigo de Loyola, que concluía seus estudos de teologia e escrevia a Manuel Miona, presbítero português, que tinha sido seu confessor em Alcalá e em Paris. Expressava assim sua intenção:
“... como yo hoy en esta vida no sepa en que alguna centella os pueda satisfacer, que poneros por un mes en ejercicios espirituales... porque a la postre no nos diga su divina Majestad por qué no os lo pido con todas mis fuerzas, siendo todo lo mejor que yo en esta vida puedo pensar, sentir y entender, así para el hombre poderse aprovechar a sí mesmo como para poder fructificar, ayudar y aprovechar a otros muchos; que cuando para lo primero no sintiésedes necesidad, veréis sin proporción y estima cuánto os aprovechará para lo mismo”. (Obras Completas de Ignacio de Loyola. Edición manual (Bac, 86), Madrid 1963, pp. 630-631).
Na escada principal. Exercitantes y exercitadores. Agosto 2005.
Sabia que en Pedreña (Santander) existia uma Casa de Exercícios. Mais tarde, soube que tinha sido inaugurada como tal em 1940, doação da família Portillo, à qual pertenciam três filhos jesuítas e que, na atualidade, depois de reformada, continua em total vigência, cuidada pelas religiosas Escravas de Cristo Rei. Soube que somente uma vez por ano se celebram os tais exercícios de mês nesta casa e que os “exercitadores” atuais eram: Alfonso Alvarez Bolado e Antonio Guillén, ambos sacerdotes jesuítas, claro! Profissionais não somente nestas práticas, como o primeiro, doutor em filosofia e o segundo graduado em economia, além das investiduras teológicas que como jesuítas possuem. O caso é que, estes dois jesuítas, desde 1996 acompanham durante o mês de Agosto, a todo aquele ou aquela que deseje participar desta aventura espiritual.
Indo pela estrada e um pouco antes de entrar na cidade de Pedreña, quando se vai de Santander a Somo, há um letreiro, junto do portão de uma casa amuralhada que diz “Casa de Exercícios”. Atravessar o umbral supõe entrar no rito mágico que comporta o entregar-se por um mês, ao que ali se vive e compartilha, como se se tratasse de um acontecimento profundamente humano-divino. Todos os receios que possam surgir como conseqüência do que uma experiência mística possa afetar nossa psique, que consideramos não preparada para esta viagem transcedental, se diluem e, se em algum momento, fazendo uso da liberdade que nos é dada, decidimos abandonar o que iniciamos, sempre é possível fazê-lo.
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Feriado em Pedreña. |
Tudo está impregnado de uma pedagogía inaciana tecida da forma mais sensível e acolhedora. Não por isso menos forte e austera. Nunca pensei que aqueles benditos exercícios de antanho, nos quais o medo e a culpa se faziam tão presentes, tivessem se transformado por uma interpretação mais autêntica, naquilo que considero o mais importante: “esse toque afetivo e gratuito que nos leva sentir a amável proximidade de Deus e de seu Cristo”. A partir disso tudo flui da reflexão bíblica como se fosse um encontro pessoal com esse homem chamado Jesus, autêntico ícone de valores humano-transcendcentes, apegado aos mais necessitados e supremamente livre diante das instituições religiosas e políticas de seu ambiente, com poderes que parecem mágicos para quem simplesmente confia. Depois disto já nada é igual. O ato psíquico e mágico ocorreu. Trata-se de uma real pedagogia transformadora, que tem suas raízes na entrega a Alguém, através de um concreto ato de fé, que é gratuito, ou seja, ocorre como ocorre no amor e em tantas outras coisas e circunstâncias da vida.
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Casa de Exercícios. Pedreña (Santander). Sala de jantar. |
Tudo isso abrigado de uma didática para a vida cotidiana que dia após dia vemos passar como num filme, acompanhados e acompanhadas pelos dois mestres já citados, tal e como Inácio o prescreve no seu livreto. As estratégias também existem. As mais importantes são: a liberdade sentida e o silêncio, que fazem destes dias extraordinários um encontro inter-pessoal com esse Jesus de Nazaré, que vai se concretizando e perfilando deliciosamente, através dos relatos bíblicos selecionados e principalmente evangélicos. Ao mesmo tempo que este silencio é de uma eloqüência sem igual ao fazer parte de um grupo de umas quarenta pessoas, homens e mulheres, que deambulam pela casa, seus jardins e a orla do mar, buscando um Deus, mais real e onipresente. Esta comunidade que ora, toca a sensibilidade por menos que se a tenha. Todos e todas, procedentes de diferentes lugares, ambientes, comunidades e não comunidades, culturas e países, procuram o mesmo Rosto.
Esta convivência do silêncio está impregnada de inumeráveis gestos pedagógicos, começando pelas irmãs da casa que cuidam dos e das participantes com verdadeiro carinho, continuando por infinidade de olhares, detalhes na mesa, na sala, na forma de caminhar tão pessoal de cada um, o lugar escolhido para a meditação, a maneira de orar, o sorriso que fala, a comunicação Eucarística e esse ar relacional que, como uma brisa tranqüilizadora, acaricia tudo, penetrando a intimidade mais recôndita da própria forma de ser de cada um. Um acúmulo de conseqüências da estratégia desse silêncio tão eloqüente, que fazendo-nos fluir por meandros insuspeitáveis, nos leva finalmente e como não podia deixar de ser, à tomada de uma decisão concreta, seja qual seja. Porque houve tempo e meios para discernir, com mais clareza que outras vezes, sobre atitudes da própria vida pessoal, ao lado da Luz e da Escuridão que como companheiros da viagem, acompanharam a concreta e pessoal peregrinação espiritual.
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Feriado. Saindo da casa. |
Dias diferenes dos habituais, ritos peculiares, reflexões necessárias, férias do espírito, onde o mesmo se exercita, a partir da tranqüilidade de quem decide num ato de liberdade pessoal, degustar de momentos, que eu diria sublimes, e que contribuem em nosso dia-a-dia com essa marca evangélica, que sem saber quase como, pertence já à nossa própria vida. Valeu a pena! Uma pedagogia muito concreta, muito bem traçada, cujo objetivo fundamental é “criar um afeto e sua prática”, afeto e prática de que talvez não sentíamos falta. É A GRATUIDADE.
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